Todo Mundo Quer Falar

Saturday, October 22, 2005

ARS ET SCIENTIA

ARS ET SCIENTIA

Arte e ciência. Sempre gostei da máxima da UFSC, apesar de ela ser falsa. Na UFSC só tem ciência. A arte, quando há, fica escondida debaixo da pilha científica.

Eu gosto de ambas, tanto da arte quanto da ciência. E quero escrever para os dois times. Desejo, sobretudo, uni-las em uma casamento nada monótono.

Por gostar de escrever, tento representar apenas a arte escrita. Visualmente e auditivamente eu deixo a desejar, então é melhor mesmo que eu coloque as mãos na caneta do que na viola, nos pincéis ou na argila.

Infelizmente, sou obrigado a confessar que me dou melhor com a escrita científica do que com a artística. Deficiência promovida graças à Psicologia. A vida inteira estudei ciência e nada de arte. Minhas leituras em arte vieram sempre contra a ciência, no sentido de que preferia fazer um relatório mediano para passar boas horas lendo literatura. Nada formal no estudo da literatura. Uma pena. Por outro lado, fico me perguntando se estudos formais ajudariam realmente...


EXPERTÁRCURLOR

Acaba com o expetáculo. Quando vou escrever artisticamente, começo com as manias científicas. Minhas descrições parecem açucaradas demais, então as mudo e elas ficam secas demais. Cadê o bendito meio termo fenomenal?

Lá vou escrever ciência. Acho ridículo o modo impessoal, mesmo que ele seja necessário. É sempre uma pessoa que escreve, é preciso lembrar. Eu não sou um computador, sou uma pessoa de carne, osso e conceitos! A ciência não me liberta. Eis o que quero na hora de escrever: transmitir da forma mais eficiente, e do modo mais belo possível.

Ao invés de ajudar, parece que sou atrapalhado pelo meu gosto pelos dois conhecimentos. O resultado é que pouco acaba me agradando. Eu sinceramente odeio discursos muito simbólicos na literatura, e sinceramente não suporto relatos nada graciosos na ciência. Cadê o bendito meio termo fenomenal?


O QUE SE FALA

A ciência e arte podem falar da mesma coisa. Seria uma briga. A ciência usaria tantas palavras quanto necessárias para proibir o leitor de fazer uma imagem diferente da vista pelo cientista. A ciência é a linguagem da persuação, por contrário que se fale. "Preciso convencer o meu leitor de que o modo como eu vi a coisa é o modo correto. Imagina se ele ler e ver diferente?! Não, isso é falha!"

A arte, por outro lado, descreve quase uma impressão, ainda que ela tenha enganado os sentidos. E o autor acharia ótimo se os leitores imaginassem coisas diferentes da que ele viu. A verdade do fenômeno está nos olhos de quem vê. Não importa o número de palavras. Um livro pode descrever uma rosa, ou uma palavra: a rosa perfeita. O que é perfeição? Não importa, caríssimo.

A arte dura mais porque permite mais. Ela não é necessariamente imortal, apesar do consenso sobre algumas obras. Ainda que perecível, ela é muito mais duradoura do que a ciência. A interpretação se acomoda aos homens, e a arte mais bela fala de fundamentos humanos que atravessam os tempos. Arte arte arte!

A impressão da arte sobrevive muito mais do que a proibição interpretativa da ciência. E aí entramos no ponto fundamental da ciência.

Toda boa ciência deve ser invariavelmente negada. A ciência, mais do que ninguém, sabe que a verdade é mutável, que o mundo é mutável e que as teorias são lixo passageiro. "Não se apegue à sua idéia" é a ordem que seguem os bons cientistas. Se o cientista defender demais sua idéia, se ele negar quem destrói sua descoberta, ele é um péssimo profissional. Um bom cientista é sempre um trampolin.

Quanto à questão da proibição da interpretação, isso é mais do que justificável. As palavras devem servir ao consenso, por mais difícil que isso seja. Os críticos que afirmam que a interpretação é imperecível, estão certos, mas quando dizem que isso invalida a ciênca, estão muito errados. Longe de ser perfeita, a ciência ainda é o meio de conhecimento mais efetivo por excelência, e duvidem de quem fala o contrário. A proibição da interpretação tem regras muito claras e necessárias. A persuasão científica, como dito, é efêmera. Não se pode ser mais sincero do que um cientista: ele escreve para ser chamado de mentiroso, mas vive satisfeito, pois sua mentira abre um milhão de possibilidades de desenvolvimento. E os desenvolvimentos são tanto melhores quanto mais criativos.


FAZER

Cadê o bendito meio termo fenomenal?

Ajudem, queridos leitores e leitoras. Vocês são jornalistas, psicólogos, alguns com almas de artista outros como almas de cientista. O que vocês acham? Apenas dessa vez, vamos abrir uma boa discussão. O que eu esqueci? Quais os pontos de ligação que não citei?

0 Comments:

Post a Comment

<< Home